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Reserva de emergência. Que saco!

  • Foto do escritor: Dayse Santos
    Dayse Santos
  • 23 de out. de 2022
  • 5 min de leitura

Atualizado: 2 de nov. de 2022


É comum a pessoa se deparar com conteúdos sobre investimentos e ficar mega empolgada para molhar os pés no mar da bolsa de valores.


E ela começa a comprar ações.


O que essa pessoa está fazendo é algo como o trapezista que, na ânsia de fazer seu show, não se incomoda em verificar a rede de segurança.


Ou, a pessoa pode buscar algum aconselhamento e ouvir a fatídica frase: “já montou a reserva de emergência?”.


Que banho de água fria.

“Reserva de emergência é chata. É só Tesouro Selic, CDB com 100% do CDI ou conta remunerada… Não tem graça! Quero logo ir pra Bolsa!”.

Calma, meu jovem!


Vamos armar a rede de segurança primeiro, vamos vestir o colete salva-vidas, vamos colocar o colete à prova de balas.


Acredito que valha a pena conversamos um pouco mais sobre o modo de composição da reserva de emergência e sua importância.

Algumas perguntas surgem em torno do tema:

“Preciso montar minha reserva inteira primeiro pra só depois começar a investir? Vai demorar demais!”

“Quanto preciso ter?”

O objetivo hoje é construirmos juntos algum raciocínio para facilitar sua jornada como investidor.

Pergunta número 1 — “Preciso montar minha reserva inteira primeiro pra só depois começar a investir?”

A resposta é aquela que todo mundo detesta: depende!

Eu entendo. Tudo que a gente quer na vida são fórmulas, protocolos prontos a seguir. Eu mesma adoro seguir protocolos, eles tornam a vida mais simples. O nosso cérebro quer isto, atalhos.

Mas como diz Morgan Housel em seu livro Psicologia Financeira:

“(…) dinheiro tem mais a ver com psicologia do que com finanças.”

E somos seres psicologicamente complexos.

Se eu disser a você: “Primeiro monte sua reserva de emergência e só depois invista.” Pode ser que você desista nesse impulso inicial e perderá toda as benesses de uma vida financeiramente organizada.

Se eu disser: “Vamos logo começar a investir.”

Eu poderia estar sendo totalmente irresponsável e, caso você tenha muitas dívidas a altos juros, eu estaria induzindo você a ficar enxugando gelo.

Preocupo-me bastante em emitir opiniões honestas, mas também sou ciente de que, por mais honestas que sejam, cada pessoa tem uma realidade e certas indicações podem não ser válidas. Por isso acho importante estabelecer premissas antes de dar certas respostas. E conto com seu bom senso para utilizar o que for possível. Ou, se você não conseguir se enxergar no que estamos discutindo aqui, fique à vontade para conversarmos diretamente.

Minha premissa para responder à pergunta número 1 é que você não tem dívidas de juros altos (cartão de crédito em atraso e cheque especial, por exemplo). Que com a planilha do seu orçamento possível, organizará as parcelas das “brusinhas” ou do celular nos seus gastos mensais e os percentuais para poupança estarão estabelecidos. Minha sugestão com base na premissa será: monte a reserva enquanto investe. Para deixar claro com isso pode ser feito, vou montar aqui todo o esquema, levando em consideração uma remuneração mensal de R$ 4.500,00.

Vem comigo!

Primeiro vamos ver nosso orçamento possível:



Observe que tanto no orçamento proposto por Nathalia Arcuri quanto por Ramit Sethi existe um percentual de 10% a ser destinado para aposentadoria.

Podemos substituir esse termo aposentadoria por independência financeira. Esses 10% são aqueles que você começará a destinar para a sua carteira de investimentos. Vamos discutir essa montagem em outro dia, mas são os investimentos de longo prazo: ações, determinados títulos do tesouro, fundos imobiliários…

Dependendo de qual dos orçamentos você escolheu, se for o de Nathalia Arcuri, você pode pegar a fração dos 20% de curto e médio prazo para compor sua reserva de emergência (R$ 900,00). Se for o de Ramit, você pode pegar esses 10% e destinar para montar sua reserva (R$ 450,00). Quando ela estiver completa, você pode continuar poupando para outros objetivos (médio e curto prazo).

O dinheiro da reserva de emergência deve ser destinado para um lugar seguro e que garanta liquidez.

Liquidez significa poder acessar esse valor quando necessário. Sem risco de perdas. Possibilidades: Tesouro Selic, CDB de liquidez diária que renda 100% do CDI ou sua conta corrente remunerada.

Por que considero interessante começar dessa forma, se a pessoa que não tem dívidas importantes?

Primeiro, porque o tempo é fator fundamental para potencialização dos retornos no longo prazo. Sendo assim, os 10% destinados para a independência financeira começarão seu trabalho o quanto antes. Observe que o “n” da equação tem efeito exponencial! É isso que buscamos no longo prazo.



Segundo, porque acredito no efeito psicológico benéfico que é para o investidor saber que já está construindo seu patrimônio, enquanto forma a reserva de emergência. Isso faz com que a pessoa engaje no processo.

Pergunta número 2 -“Quanto preciso ter?”

Para essa resposta, poderíamos passar horas e horas conversando.

Mais uma vez, nosso cérebro busca um número, uma fórmula. E até temos uma regra de bolso muito difundida: Entre 6 meses a 1 ano dos seus gastos mensais.

1 ano sendo extremamente recomendado para profissionais autônomos.

Voltando ao nosso exemplo de renda mensal de R$ 4.500,00, vamos utilizar os valores destinados para despesas essenciais. É esse valor que precisa ser multiplicado por 6 ou 12 meses:


Pelo orçamento proposto por Arcuri: entre R$ 14.850,00 e 29.700,00; Pelo orçamento proposto por Ramit: entre R$ 16.200,00 e 32.400,00.

Diante desses números podemos ter dois tipos de pessoas:

As felizes, pois talvez já tenham esses valores poupados. As desestimuladas, pois consideram valores muito altos. E de fato são. Mas existem modos de pensar que dificultam ou facilitam nossa vida. Pensamento 1: “Ah, já que é muito! Deixa pra lá.” Pensamento 2: “Toda montanha se escala pela base.”

Que cultivemos o Pensamento 2.

Coloque objetivos menores: meio mês de custos poupados, 1 mês, 2 meses, 3… Autônomos podem receber valores maiores e turbinar a reserva, você pode utilizar seu décimo terceiro salário para dar um up, vender coisas que não utiliza mais no OLX e levantar uma grana para acelerar a composição da reserva. Tudo isso são estratégias que podem diminuir o tempo que você passará destinando esses recursos para “a chatice da reserva de emergência”.

MINHA RESERVA, MINHA VIDA.

Para finalizar, quero comentar algo que aconteceu comigo essa semana e trouxe novamente a questão da reserva de emergência à tona.

Precisei levar o carro à oficina pois estava notando um barulho estranho na suspensão há um tempo. Resultado: substituição das bieletas e buchas da barra estabilizadora. Esse gasto definitivamente não estava provisionado para esse mês. E vou ser honesta, eu acabei nem utilizando a reserva de emergência.

Talvez você note que quanto mais engorda a reserva, mais evitará se desfazer dela. Isso é um viés comportamental chamado Efeito Posse (ou dotação). Claro que eu sei para que serve a reserva de emergência, é para esse tipo de evento. Mas, como o custo foi relativamente baixo, preferi utilizar o cartão de crédito a mexer na reserva.

Por que foi possível utilizar o cartão e postergar esse pagamento? Porque meu controle de orçamento me ofereceu essa folga. Deixo a reserva para situações que realmente poderiam me desestabilizar financeiramente, como ano passado ao precisar arcar com uma mudança de endereço inesperada. O ponto é: a mudança não afetou minha capacidade de aportes mensais nos meus investimentos. E por que? Porque a reserva estava lá!

A capacidade de investir todos os meses é essencial para sucesso no longo prazo. A sua reserva de emergência é a rede que ampara o acrobata. Se você estiver sempre apagando focos de incêndios advindos de imprevistos, sua jornada como investidor será muito mais tortuosa.

Como disse Jason Zweig nos comentários ao capítulo 4 de O Investidor Inteligente:


“O inesperado pode surpreender qualquer um, em qualquer idade. Todo mundo deve manter parte de seu patrimônio naquele abrigo sem riscos (…)”.

Meu objetivo não é ditar regras, mas apontar alguns caminhos e trazer discussões que podem ajudar você a ter uma vida financeiramente mais equilibrada. Isso representa muito mais que números, representa tranquilidade. A vida já tem problemas demais com os quais precisamos lidar.

Até a próxima.


Texto por: Dayse Santos Arimateia

Especialista em Investimentos ANBIMA

Consultora de Investimentos CVM na Portfel Consultoria Financeira.

Publicado originalmente em 26 de junho de 2022.

 
 
 

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