Previsibilidade e imprevidência
- Dayse Santos
- 2 de nov. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de nov. de 2022

Assinatura do termo de posse. UFRN. Novembro de 2012.
Tomar posse no sonhado cargo público. A realização do sonho de muitas pessoas.
Depois de anos de estudo.
Depois de muita dedicação em busca de uma carreira, chega o almejado momento.
A partir de agora, tudo estará resolvido. Afinal de contas, já diz um velho ditado:
“O serviço público fecha as portas para a pobreza”.
Será mesmo?
É sobre isso que vamos discutir.
Um pouco de realidade
O serviço público é composto por uma miríade de cargos, cujos salários podem tem variações enormes entre si.

Tais variações dependem da esfera de poder que esse servidor integra (executivo, legislativo ou judiciário) bem como se o cargo é municipal, estadual ou federal.
Meu objetivo é deixar claro que ser servidor público não significa necessariamente ser rico. Existem, obviamente, cargos de altas remunerações, mas não é a maioria. É importante evitar generalizações que nos impedem de olhar a vida com mais clareza.
Voo em céu de brigadeiro.
Ponderação feita, vamos falar um pouco sobre as finanças do servidor.
Um trabalhador do serviço público é o sonho de qualquer planejador financeiro, pois é muito fácil estabelecer planos com previsibilidade de receita. Lembra quando falamos sobre estabelecer um orçamento possível?
Um servidor público tem tudo para ter uma vida financeira feito voo em céu de brigadeiro. Previsibilidade e estabilidade são fatores que dão uma grande vantagem, quando pensamos em planejamento financeiro e construção de riqueza.
Mas porque nem sempre isso acontece?
Porque, como qualquer outro trabalhador, nem sempre o servidor tem educação financeira. E essa falta leva o indivíduo, muitas vezes, a viver de modo a comprometer toda a sua remuneração. Não sobra nada para poupar.
A previsibilidade dá lugar à imprevidência.
Mas, afinal, por que o servidor deveria se preocupar com finanças? O salário dele é certo todo mês!
Vou dar 3 motivos: INFLAÇÃO, CRÉDITO e APOSENTADORIA.
INFLAÇÃO
Por mais que doa, a inflação faz parte das nossas vidas!

Além disso, os servidores públicos não têm data-base, ou seja, seus salários não são reajustados de maneira periódica. Os reajustes acontecem somente após a situação se tornar tão insustentável que a insatisfação causa as famigeradas greves. O servidor vive correndo atrás do prejuízo, uma vez que os reajustes dificilmente serão capazes de recompor seu poder de compra.
CRÉDITO
O servidor precisa de um orçamento bem organizado para que uma de suas maiores vantagens não se torne uma armadilha. Geralmente, servidores têm acesso facilitado ao crédito. Taxas atrativas e o famoso consignado podem fazer com que alguém mais desatento acabe reduzindo pouco a pouco sua remuneração pela aquisição de mais e mais consignados.
O que é um consignado? Empréstimos ou financiamentos que um servidor pode fazer e ter as prestações descontadas diretamente de sua remuneração.
Não me entenda mal, não estou demonizando o crédito. Já diz Gustavo Cerbasi em seu livro: Como organizar sua vida financeira.
“Crédito não é veneno nem faz mal a sua saúde financeira. Crédito é uma bênção, um privilégio dos que podem contar com ele para custear eventualidades ou mesmo para realizar desejos sem resultar em desmantelamento de sua estratégia de previdência ou de suas oportunidades de investimento.”
Como sabemos, a diferença entre o remédio e o veneno é apenas a dose! Com o crédito não é diferente: use-o com sabedoria.
O que acontece se sua remuneração está toda destinada para compromissos financeiros e ocorrer algum atraso no pagamento? O acesso facilitado ao crédito não deve ser motivo para que o servidor negligencie, por exemplo, a necessidade de uma reserva de emergência.
Vou deixar aqui para vocês o melhor vídeo que vi até hoje sobre esse assunto com direcionamento para o servidor.

APOSENTADORIA
Você seria capaz de me dizer qual será a regra de aposentadoria vigente, quando chegar a sua hora?
A menos que esteja bem próximo de pendurar as chuteiras, acredito que você não saiba. E sabe porquê? Porque nossa população está vivendo mais e reproduzindo menos. O resultado é: estamos envelhecendo. A regras para aposentadoria mudam periodicamente.

Base da pirâmide: população mais jovem. Topo: população mais velha. Fonte: https://www.scielo.br/j/csp/a/PrPGy4RXRLpkQmx4qgDxVCh/?lang=pt#
A Lei Complementar Nº152 de dezembro de 2015, alterou a idade de aposentadoria compulsória dos servidores de 70 para 75 anos. Até quando você pretende trabalhar?
Quantos se mantêm em serviço apenas para não verem sua remuneração brutalmente reduzida pela aposentadoria? Some-se a isso que durante a vida o servidor foi fazendo vários consignados e a possibilidade de aposentadoria pesa ainda mais nesses casos.
MUDE O JOGO HOJE
Caro amigo servidor, se até agora você viveu sem prestar atenção nessas questões, saiba que você não é o único. Isso é muito comum. Dá para mudar o jogo se você começar a ver todos os benefícios que a previsibilidade de renda oferece.
Estabeleça seu orçamento.
Monte sua reserva de emergência.
Monte uma carteira de investimentos voltada para o longo prazo. Assim você será o senhor do seu destino, e não vítima de um futuro que é incerto para todos nós.
Até a próxima.
Texto por: Dayse Santos Arimateia
Especialista em Investimentos ANBIMA
Consultora de Investimentos CVM na Portfel Consultoria Financeira.
Publicado originalmente em 17 de julho de 2022.
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