Não junte dinheiro.
- Dayse Santos
- 19 de nov. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de abr. de 2023

É comum ouvir pessoas dizerem frases do tipo:
“Não consigo juntar dinheiro...”.
“Até juntei por um tempo, mas depois acabei gastando...”.
“Ainda vou conseguir juntar dinheiro...”.
Acredito que estamos diante de um problema de linguagem:

O que é “juntar” dinheiro? Simplesmente guardar?
Gosto de pensar sobre o ser humano como ser integral. Lidamos diariamente com diversas situações, mas nosso cérebro é um só. O cérebro que lida com dinheiro, é o mesmo cérebro que lida com o trabalho, com a família, com nossas questões pessoais.
Estou falando do cérebro, pois quando o entendemos melhor, temos a capacidade de nos entender melhor. Quando entendemos como algo funciona, nossa capacidade de atuar assertivamente aumenta bastante.

O cérebro não gosta de coisas vagas. Ele é precioso demais para gastar energia em coisas sem sentido, não se engaja em tarefas vãs.
Qualquer pessoa que tenha estudado um pouco sobre produtividade certamente se deparou com o conceito de metas SMART. Cada uma dessas letras significa uma palavra em inglês para definir as qualidades que uma meta precisa ter a fim de que nossas chances de concretizá-la aumentem.
S – Specific (Específica);
M – Mensurable (Mensurável);
A – Attainable (Alcançável);
R – Relevant (Relevante);
T – Time-based (Temporal, com prazo).
Estão começando a entender o problema da meta de “juntar” dinheiro?
Juntar para o quê? Quanto? Para quando?
“Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve”,
Já disse o gato da Alice no país das maravilhas.
Se você não sabe porque está poupando, o dinheiro poupado servirá para qualquer coisa. Não adianta juntar dinheiro, é preciso ter um objetivo. A importância do objetivo é evitar que sejamos vítimas de nós mesmos, do nosso cérebro e seu viés do presente.
Que significa isso? O cérebro tem dificuldade em visualizar metas de longo prazo. Poupar para aposentadoria, malhar o ano inteiro para estar no shape para o verão, estudar desde o primeiro dia para uma prova que só vai acontecer daqui a cinco meses.

Hoje seu presente pode ser “quero juntar dinheiro”, mas daqui a três meses pode ser “estou cansado, trabalhei muito, mereço aproveitar essa promoção de passagem para Jericoacoara”.
Quem não sabe para que junta, não vai saber a hora certa de gastar.
Por isso reitero: não adianta juntar dinheiro. Você tem um forte inimigo à espreita pronto para derrubar essa meta inespecífica, imensurável (o que já ataca diretamente a tangibilidade), irrelevante e sem tempo para ser realizada. Esse inimigo chama-se viés do presente!
Por esse motivo o conceito de investimentos baseados em objetivos (goal-based investment) é tão importante. Quando temos diferentes objetivos e adequamos nossos investimentos a esses objetivos, se torna mais fácil poupar. Tenha metas de curto, médio e longo prazo.

Cada uma delas funciona como um disjuntor que protege a próxima.
Quando você estabelece metas curtas e consegue cumpri-las, seu sistema de recompensa é ativado e pensa: “se eu consegui essa, consigo a próxima”. Dê ao seu cérebro motivos para continuar, já que sabemos que ele tem dificuldade em projetar realidades tão distantes. Uma boa forma de separar os valores para cada meta é utilizar as caixinhas do Nubank.
Trabalhe com maneiras de se proteger de si mesmo. Se sabe que tem dificuldade em poupar, não deixe esse dinheiro na poupança, a um clique de uma decisão impulsiva. Imobilize uma parte de seus recursos para que possa usufruir de melhores retornos no longo prazo, assim a tentação de resgatar suas aplicações será menor.
Tá vendo a importância de entender como funciona nosso cérebro a fim de que tenhamos sucesso contra ele mesmo? Rsrsrs.
Não junte dinheiro! Invista! Invista com objetivos.
Até breve!
Dayse Santos Arimateia
Especialista em investimentos ANBIMA
Consultora na Portfel Consultoria Financeira
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