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Cuidado com o lobo de Wall Street

  • Foto do escritor: Dayse Santos
    Dayse Santos
  • 16 de jun. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 19 de jun. de 2023


Cena do filme O lobo de Wall Street

A vida imita a arte ou a arte imita a vida?


É inegável que o cinema tem um papel de influência na sociedade. Não por acaso é um meio utilizado para disseminação de marcas e produtos. Para além do marketing, o impacto do cinema sobre comportamento e crenças é tema de artigos e estudos psicológicos.


“A arte cinematográfica é um poderoso meio de comunicação, impactando a sociedade de várias maneiras. Pode influenciar as pessoas a pensar de novas maneiras e desafiar crenças anteriormente mantidas, ao mesmo tempo em que promove a aceitação de diversas culturas e estilos de vida.”

De acordo com um estudo publicado em 2020, a maneira e o quanto o cinema impacta os comportamentos ainda é algo a ser desvendado pela psicologia. Entretanto, acredito que concordamos que a influência é inegável.


Recentemente, eu estava refletindo como o cinema poderia influenciar o comportamento dos investidores. E acredito que vale a pena compartilhar essa reflexão com vocês.


A indústria cinematográfica americana é uma das maiores e tem disseminado o american way of life ao redor do mundo. O mercado de ações americano corresponde a quase metade do mercado mundial; é natural que muitas de suas produções cinematográficas reflitam o universo de Wall Street e seus personagens.



  • A Fraude (Rogue Trader);

  • Wall Street: Poder e Cobiça;

  • A grande aposta (The big short);

  • Grande demais para quebrar;

  • Margin Call: o dia antes do fim;

  • Wall street: o dinheiro nunca dorme;

  • O lobo de Wall Street...


Boa parte desses filmes enfatizam o mercado de ações e operações na bolsa de valores. Meu objetivo hoje é discutir sobre porque você não deveria tentar replicar o que vê no cinema.


MOEDA


O Dólar completou 230 anos em 2022. Aprovada em 1792 pelo congresso americano a moeda nunca mudou ou passou por cortes de zeros. Bem diferente da nossa realidade. A moeda brasileira passou por 7 trocas somente entre o período de 1942 até 1994.


  1. Cruzeiro - 1942

  2. Cruzeiro novo - 1967

  3. Cruzeiro (de novo) - 1970

  4. Cruzado - 1986

  5. Cruzado novo - 1989

  6. Cruzeiro (de novo) - 1990

  7. Cruzeiro Real - 1993

  8. Real – 1994 (que Deus o mantenha).

Meu colega da Portfel, Vinicius Miranda, fez um excelente diagrama para ilustrar a longevidade do dólar em relação ao real.


Linha do tempo real versus dólar.

JUROS


O país dos rentistas. Essa é a alcunha que por muitos anos acompanhou o Brasil. Na verdade, atualmente temos uma das maiores taxas de juros real do mundo. Um país com tanta insegurança monetária, conforme vimos acima, se tornou um campo fértil para que o crédito fosse uma forma importante de obtenção de lucros no mercado financeiro. Acompanhe a curva de juros brasileira nos últimos 11 anos.


https://clubedospoupadores.com/selic/meta

Agora vamos dar uma olhar na “taxa selic” americana.


https://pt.tradingeconomics.com/united-states/interest-rate

Em 2016, enquanto a taxa selic alcançava a marca de 14,25%, a taxa de juros americana era de menos de 1%. Isso mesmo. Menos de 1%.


Diante de retornos tão baixos para o mercado de renda fixa americano é natural que o investidor dos Estados Unidos busque correr mais risco. Não é à toa que a cultura de investir em ações é tão difundida entre os americanos. Mais de 50% da população americana investe em ações, contra 2,7% da população brasileira (dados de 2022).


O impacto da curva de juros em relação a busca por investimentos de maior risco ficou clara no Brasil em 2020, quando a taxa selic chegou a 2%.


Acompanhe o gráfico abaixo nessa matéria de 21 de agosto de 2020.

https://renda-extra.r7.com/queda-da-selic-motiva-entrada-de-novos-investidores-na-bolsa-14082022

INFLAÇÃO


Não podemos falar de taxa de juros sem mencionar a inflação.


Esse ponto foi abordado por Morgan Housel em seu livro A Psicologia Financeira.


“Os indivíduos que cresceram em tempos de inflação alta investem menos dinheiro em títulos quando adultos se comparados àqueles que cresceram em tempos de inflação baixa.”

O Brasil é um país com histórico de inflação alta, o que explica porque a cultura de poupar e investir não é ainda tão difundida em nosso país. Em um lugar onde a população no final da década de 80 e início da década de 90 era acostumada a ver seu dinheiro perde valor da noite para o dia, fazia mais sentido consumir o máximo possível hoje do que poupar para o futuro. Realidade bem diferente em relação ao investidor americano, que não está acostumado a lidar com juros altos como nós estamos. Eles mal sabem o que é isso. De maneira atípica, os Estados Unidos vêm lidando com uma alta de juros em 2023. Tão atípica que levou a quebra de pequenos bancos.


CONCLUSÃO


Diferenças em termos de moedas, juros e inflação fazem de Brasil e Estados Unidos ambientes totalmente diferentes, quando tratamos de investimentos. Razão pela qual você deve ter muita cautela ao tentar reproduzir modelos americanos.


Somando-se à influência do cinema, grande parte da literatura que temos disponível sobre investimentos é de autores americanos e retrata a realidade de um mercado muito mais maduro que o brasileiro. Investir no Brasil é estar ciente, por exemplo, de que os ciclos de mercado têm uma tendência a serem mais curtos que o americano, de que não podemos ignorar o poder de investir em indicadores como o índice Anbima IMAB-5 - o qual replica a cesta de títulos do tesouro atrelados à inflação com vencimento de até 5 anos -, de que investir em ações pode sim trazer um retorno adicional devido à ineficiência do mercado, mas não sem um risco adicional considerável.


Leia bastante, assista a bons filmes, mas não esqueça que estamos investindo em um mercado emergente. Cuidado com o lobo de Wall Street, não permita que seus olhos grandes ceguem você para sua realidade local. O investidor perspicaz é aquele que sabe reconhecer as características do terreno em que está pisando.


Bons investimentos e até breve!


Texto produzido por Dayse Santos Arimateia.

Especialista em Investimentos ANBIMA (CEA).

Consultora na Portfel Consultoria Financeira.

 
 
 

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