Compre Bolsa agora!
- Dayse Santos
- 12 de abr. de 2023
- 5 min de leitura
Atualizado: 13 de abr. de 2023
No texto de hoje eu vou mostrar definitivamente porque não adianta tentar achar o “ativo do momento”.
Certamente você que investe já viu esse gráfico por aí justificando que é um excelente momento para investir na bolsa.

Fonte: Fonte: https://www.oceans14.com.br/acoes/historico-pl-bovespa
Acesso em 12 de abril de 2023.
Algumas pessoas têm usado esse gráfico para compartilhar a ideia de que “a bolsa está barata”, pois o Preço/Lucro (P/L) está baixo em relação a sua média histórica. Entretanto, cuidado com essas avaliações baseadas em um único indicador.
O P/L serve para o investidor como um indicador de quanto o mercado está disposto a pagar pelos ganhos de uma empresa. Desse modo, obtemos um indício de que quanto maior for o P/L, mais positivo está o cenário do mercado em relação à companhia.
O cálculo do P/L é bastante simples. Devemos utilizar o preço da ação em determinado momento e dividi-lo pelo Lucro por Ação da empresa. Sua fórmula é a seguinte: P/L = Preço da Ação / Lucro por Ação.
É um indicador de otimismo ou pessimismo do mercado em relação a uma empresa específica.
O P/L é uma razão, uma divisão entre Preço e Lucro por ação.
Um P/L baixo indica que os lucros aumentaram e o preço se manteve?
Indica que os lucros se mantiveram, mas o preço da ação baixou?
Indica que ambos aumentaram?
Indica que ambos diminuíram?
Pegou a visão?
Viu como é complicado tentar prever um “bom momento para investir em bolsa” levando em consideração somente o P/L?
Usando a mesma lógica, também seria um bom momento para investir em ativos atrelados ao CDI. Veja o comportamento da taxa SELIC nos últimos anos.

Na verdade, não existe “bom momento para investir”. O bom é estar sempre investido.
Howard Marks, em seu memorando Selling out, utilizou uma citação de Bill Miller:
“We believe time, not timing, is the key to building wealth in the stock market.” (18 de outubro de 2021).
“Acreditamos que o tempo, e não o ‘timing’, é a chave para construir riqueza no mercado de ações.”
Timing é uma palavra difícil de traduzir, mas podemos dizer que é aceitar o tempo e não acertar o tempo, ou escolher o momento certo, que é a chave para construir riqueza no mercado de ações. A meu ver, não apenas no mercado de ações, mas no mercado de forma geral.
Além do tempo, quero trazer mais um fator: a diversificação.
“Único almoço grátis do mercado”, segundo Harry Markowitz. Criador da teoria moderna de construção de portfólios, que lhe rendeu o Prêmio Nobel.
Temos então duas chaves para a construção de riqueza no mercado: TEMPO e DIVERSIFICAÇÃO.
Vou mostrar para vocês o poder dessas duas chaves combinadas.
Imagine que você tivesse investido somente em ações pelos últimos 10 anos.
Este teria sido o seu resultado em comparação ao CDI, CDI é o que consideramos como nossa taxa livre de risco.

Seu resultado teria sido cerca de 40 pontos percentuais menor do que se você tivesse passado 10 anos investindo somente em renda fixa atrelada ao CDI, via tesouro SELIC, por exemplo.
-Nossa, Dayse, então significa que eu deveria ter investido apenas em CDI?
De jeito nenhum!
Vamos fazer essa mesma análise por um período de 20 anos.

Se você tivesse ficado investido 100% em bolsa durante 20 anos, seu resultado teria sido 88 pontos percentuais maior que o CDI.
Fácil não é? Será? Você teria tido o estômago para suportar todas as oscilações durante esse período? Compare o quanto as linhas azul e vermelha são diferentes. Enquanto a linha vermelha segue suave e ascendente, a linha azul é cheia de altos e baixos. Olhar o gráfico é fácil, mas viver ele é outra história.
Okay! Acabamos de verificar a diferença que o tempo pode fazer em relação aos nossos investimentos, agora vamos falar um pouco sobre diversificação.
E se você tivesse investido meio a meio? Se 50% da sua carteira fosse de renda fixa atrelada ao CDI e 50% estivesse em bolsa? Vamos ver...
Primeiro, durante 10 anos (linha vermelha):

E agora durante 20 anos (linha azul):

No cenário de 10 anos, teríamos uma diferença entre o CDI e o portfólio combinado de apenas 4 pontos percentuais. E no cenário de 20 anos, o portfólio combinado (50% CDI/50% IBOV) teria sido bem superior ao CDI ou IBOV isoladamente. Gerando 125 pontos percentuais a mais.
Como pode? Markowitz explica. Por meio de uma equação matemática que os pouparei aqui.
Você teria tido excelentes retornos e uma volatilidade, ou seja, uma variação do seu patrimônio, bem menos assustadora do que a renda variável sozinha oferece. E o melhor de tudo: sem abrir mão dos retornos que as ações proporcionam.
Vamos pegar um momento bem tenso para deixar isso ainda mais claro. Março de 2020. Eclosão da pandemia de COVID-19. O gráfico abaixo mostra o comportamento de um portfólio 100% renda fixa CDI (azul), 100% ibovespa (verde) e o portfólio combinado (50% CDI/50% IBOV, linha vermelha) em um dos momentos mais críticos.

Como podemos ver, o portfólio combinado caiu bem menos que o portfólio 100% IBOV. Não sei se você já investia, mas naquele momento de muita incerteza as emoções estavam à flor da pele. Imagina olhar pro seu patrimônio e vê-lo caindo mais de 40%.
Você teria estômago? Se você já investia, como se sentiu naquele momento?
É como costumo dizer: cada classe tem seu papel em um portfólio. É como um organismo que precisa de cada um dos seus órgãos para funcionar bem. Na pandemia, a renda fixa teve um papel fundamental em "segurar" a carteira, quando a bolsa estava literalmente derretendo.
Até agora utilizei apenas dois indicadores, IBOV e CDI. E se a gente diversificasse ainda mais?
E se colocássemos um pouco de investimentos no exterior?
Vamos utilizar uma janela de 5 anos para análise. Considerei esse período de tempo, pois engloba o grande aumento do número de investidores na Bolsa. Poucos entusiastas investem há mais 5 anos.
Primeiro, o portfólio 50/50. Praticamente empatado com o CDI (linha vermelha).

Agora uma carteira 50% CDI, 25% IBOV e 25% Ações no exterior (linha azul).

Olha só! Mais de 25 pontos percentuais acima do portfólio combinado 50/50 e do CDI. 38,56 pontos percentuais maior que o IBOV.
Detalhe importante para o período da pandemia em 2020: veja como a diversificação internacional protegeu a carteira em relação à carteira 50/50 que mostrei na figura anterior.
Aí você vai me falar:
-Dayse, então o segredo mesmo é investir no exterior?
O segredo é diversificar!
Vamos diversificar um pouco mais em renda fixa. Além de CDI, vamos acrescentar um pouco de ativos atrelados à inflação, utilizando um índice chamado IMA-B5, o qual leva em consideração os títulos do tesouro atrelados à inflação (Tesouro IPCA+) com prazo de vencimento de até 5 anos.

Conseguimos 4,85 pontos percentuais a mais em relação ao portfólio apenas com a adição internacional.
Agora ficou claro né? Utilizamos apenas 4 ativos para construir um portfólio bem mais interessante do que investir apenas em renda fixa CDI ou apenas Ibovespa (ações no Brasil). E olha que utilizei o Ibovespa, um índice intrinsecamente problemático. Poderia ter utilizado o IBRX, mas isso fica para outra conversa.
Agora imagine a quantidade de combinações que podemos fazer para gerar carteiras ainda mais eficientes em termos de risco e retorno? Então, é assim que trabalhamos na Portfel consultoria financeira.
Por tudo que discutimos, espero que você entenda que não se trata de “comprar bolsa agora”.
Compre sempre. Compre Bolsa, CDI, ativos no exterior, outros ativos de renda fixa, fundos imobiliários... Compre e diversifique. Espere o tempo!
Curtiu? Envia para aquele seu amigo que vive em busca do investimento perfeito!
Se quiser ainda mais argumentos para deixar de vez essa história de market timing de lado, clique aqui.
Disclaimer: os dados levam em consideração o passado. Retornos passados não são garantia de retornos futuros. Esse artigo tem propósito meramente educacional.
Texto produzido por Dayse Santos Arimateia.
Especialista em Investimentos ANBIMA (CEA).
Consultora na Portfel Consultoria Financeira.
Revisão André Salmeron, consultor e pesquisador da Portfel Consultoria.
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